domingo, 8 de julho de 2012

Crítica: O Iluminado (1980)















"All work and no play makes Jack a dull boy."

Título original: The Shining. Dirigido e produzido por: Stanley Kubrick. Roteiro de: Stanley Kubrick, Diane Johnson. Montado por: Ray Lovejoy. Fotografia de: John Alcott. Estrelando: Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd e Scatman Crothers.

Nada melhor que inaugurar o blog com uma crítica acerca desta obra-prima do fantástico diretor Stanley Kubrick. Apesar de ser um filme de terror, sempre encarei a produção como um ensaio sobre pessoas, relacionamentos, confinamento e, principalmente, solidão. Os personagens, apesar de terem uns aos outros, encontram-se sozinhos, cada um preso a seus próprios dramas e impressões pessoais.

A trama gira em torno de Jack Torrance (Jack Nicholson), que durante o inverno é contratado como zelador no imenso e isolado Hotel Overlook, no Colorado. Antes de ser admitido, ainda na estrevista, o dono do hotel conta a Jack a história de um antigo zelador que, afetado pela síndrome da cabana (onde indivíduos isolados se rebelam uns contra os outros) mata a esposa e suas duas filhas. Durante 5 meses, ele terá que ficar confinado junto com sua esposa Wendy (Shelley Duvall) e filho Danny (Danny Lloyd), que possui um dom especial que, entre outras coisas, o dá visões do que acontecerá no hotel. Ao chegarem no local, são guiados por Dick Hallorann (Scatman Crothers), um cozinheiro que possui o mesmo dom de Danny, sendo capaz inclusive de se comunicar telepaticamente com o garoto. O cozinheiro revela a Danny que a habilidade compartilhada por eles é hereditária, informação útil para interpretar a abordagem que Kubrick escolhe na maior parte da película. 

O filme não deixa claro se as visões de Jack são fruto de sua mente perturbada ou, simplesmente, de fantasmas presentes no hotel. Nesse balanço entre psicológico e sobrenatural, o diretor leva o espectador a enxergar as aparições no hotel como fragmentos de um passado que se manifestam ali, independente de sua origem. É interessante notar o uso da cor vermelha e de espelhos toda vez que Jack se encontra diante de um “fantasma”, ressaltando, dessa forma, os problemas e ansiedades do personagem, à medida que ele [Jack] deforma sua perspectiva de si mesmo e de sua família.

A construção visual do hotel, com seu exterior cinzento e sua decoração sóbria repleta de motivos indígenas, o que o torna ainda mais assustador, visto que supostamente foi construído sobre uma área de conflito entre colonizadores e nativos, com as terras tendo sido tomadas à força. A importância da steadicam para a narrativa é imensa, ao colocar o espectador na altura de Danny, deixando o local ainda mais perturbador. Outro detalhe interessante é o som angustiante do velotrol no assoalho e nos tapetes, que dificilmente seria conseguido sem os equipamentos próximos do pequeno ator (o próprio Kubrick se surpreendeu com o efeito do som diegético).

No que tange às atuações, Jack Nicholson dá um show à parte com suas expressões intensas e, às vezes, um tanto caricatas. Shelley Duvall está excelente como Wendy, tendo a ingenuidade e o desconhecimento da personagem ressaltados com o figurino meticulosamente pensado, soando ao mesmo tempo comportado, recatado, reprimido e abobalhado. Outro destaque é Danny Lloyd, o garoto de 6 anos que foi tão protegido por Stanley Kubrick que só descobriu o verdadeiro gênero do filme anos mais tarde. 

Sendo inspirado pela obra de Stephen King, e não adaptado desta, o filme homenageia o livro em diversas cenas. A mais evidente é o plano que mostra um homem vestido de cachorro, supostamente praticando sexo oral. É uma singela referência ao livro, em que a subtrama envolvendo o homem é detalhada, sendo usado por Kubrick apenas para propósitos dramáticos e narrativos.

 
A fotografia mostrada na cena final sugere uma nova abordagem que se contrapõe ao tom psicológico adotado na maior parte da narrativa, sendo possível escrever páginas e páginas de interpretações. Ao levar o espectador a questionar-se, Kubrick ratifica que, para ele, a função do cineasta é levantar questões, e não dar respostas.

Por Bernardo Argollo

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